Manifesto Contra a Inveja

A inveja nasce na alma cujo obscuro túmulo
De tão profundo, engole quaisquer formas
De timbre ou som – posto que não há música.

Mais do que uma intenção, a inveja se arrasta
Através da boca a cata de ouvidos ávidos
Por vícios, pecados e loucuras.

Ela, a inveja, se alastra pelos ares feito vírus,
– palavras doentes, conselhos envenenados –
Cobrindo terras e mares, felizes e infelizes,
Fluindo do gozo ao riso profano...
Por estar, simplesmente, maldizendo pelas costas;
Alguém que no início do dia fora chamado:
Amigo, colega de trabalho.

Mesquinhos e vis são os caminhos da inveja;
Canteiros repletos de ervas daninhas,
Gravetos secos, sorriso sem gosto, gestos sem pressa,
Flor sem pétalas em meio a espinhos.

Disse-que-me-disse, reza por cima dos ombros,
Olhares encolhidos ao canto dos olhos; picuinhas,
Calúnias plantadas como fossem minas
Em terrenos escolhidos com esmero cuidado.
Uma vez que ela, a inveja, pretende com...
O mínimo esforço, entre gargalhadas disfarçadas,
O maior dos estragos!

Não obstante, se quando a raiva é plena e
A indignação sua coadjuvante...
As boas maneiras solicita que não se xingue.
Apesar da vontade assim o exigir.
Mesmo porque, a voz trancafiada em nós,
Por vezes, aconselha: “o sábio acompanha
O bom e o mal tempo, e não se detém;
Posto que o mundo é feito de contrastes
que devem ser harmonizados”.
Eu sei... que nada sei se a raiva é grande.

I Ching, filósofos e glicerina a parte...

Este manifesto é contra a personificada Inveja.
Este ínfimo quase nitro sentimento, incisivo em almas
que se revelam apagadas. Almas destituídas de luz,
torpe diferença entre iguais, Guilhotina, forca,
fuzil e masmorra... “Apartáide” do pensamento.

Arauto da guerra, a inveja é a seca e a fome nos
Homens que não se reconhecem como irmãos...
Tristeza sem nome... cinzas no chão, silêncio, solidão.

Luciano Borges

Nenhum comentário: